A recente crise financeira global e a recessão que vivem os países
desenvolvidos numa economia globalizada como a nossa, constitui uma severa chamada de atenção sobre as consequências de se
consumir mais do que temos. A possibilidade da recessão económica atingir todo o mundo empalidece face à iminente crise do
crédito ecológico. Vivermos perto de uma floresta ou no centro de uma cidade, os nossos meios de subsistência e, não altera
o fato das nossas vidas dependerem dos serviços proporcionados pelos sistemas naturais da Terra.
O planeta adverte-nos que estamos a consumir os recursos que sustentam
esses serviços demasiado rápido - a uma velocidade maior que o tempo necessário
para os renovar. O consumo desmedido,
igualmente, está a gerar uma recessão, e a forma irresponsável que assume, está a esgotar o capital natural do Planeta, ao
ponto de pôr em perigo a nossa futura prosperidade, senão mesmo a existência. Somente nos últimos 35 anos, perdemos quase
um terço da vida silvestre da Terra.
No entanto, a nossa procura por bens de toda a ordem continua a aumentar,
resultado do implacável crescimento não só da população humana, mas também do consumo individual. A nossa pegada ecológica
global excede em quase 30% a capacidade do Planeta de se regenerar. Se a nosso consumo e procura por bens continuarem a este
ritmo, em meados da década de 2030 precisaremos do equivalente a dois planetas para manter o nosso estilo de vida actual.
O impacto sobre o Planeta revela-se desde logo no nosso consumo dos recursos hídricos, e na nossa vulnerabilidade face à escassez
de água em muitas regiões do mundo.
Estas tendências gerais têm consequências muito concretas, e em 2007,
ano do começo da crise sistémica global encheram os cabeçalhos dos meios de comunicação social. Nesse ano, o preço mundial
de muitos bens alimentares atingiu níveis recordes, em grande parte devido à crescente procura de biocombustíveis e de alimentos
para consumo humano e animal, e em algumas regiões do planeta existe uma escassa disponibilidade de água. A história documentada
do nosso planeta, revelou que em 2008, pela primeira vez, o gelo árctico ficou rodeado de águas derretidas devido ao impacto
da nossa pegada de carbono.
A crise do crédito ecológico é um desafio mundial. Mais de três quartas
partes da população mundial vive em países que são devedores ecológicos, ou seja, o seu consumo nacional ultrapassou a biocapacidade
do seu país. Portanto, a maioria de nós mantemos os nossos estilos de vida atuais, e o nosso crescimento económico, na extração
cada vez mais excessiva do capital ecológico do Planeta. A boa notícia é que temos os meios para reverter a crise do crédito
ecológico. Não é demasiado tarde para evitar o aparecimento de uma recessão ecológica irreversível. Estão fixadas as áreas
nas quais devemos transformar os nossos estilos de vida e as economias para situarmos numa rota mais sustentável. Está na
moda ser ecologista ou ambientalista. Parece que dá um certo status social. As Organizações não governamentais (ONGs) reconhecidas
pelos Estados e pela ONU são muito reduzidas. O ambientalismo não é uma corrente política de estilo de vida, ao qual se adere
pela formação de uns quantos que passaram a gostar de verde, a tentar proteger animaizinhos e plantinhas, mas que não alteraram
o seu estilo de vida para um compatível com o seu discurso.
Quando o homem entender que é uma espécie igual às demais e faz parte
do meio ambiente e que o cuidará como sua casa, poderá declarar-se ecologicamente adaptado. Até lá, terá de estudar tudo acerca
do planeta, de si e da sua interacção com o mesmo, mudando a mentalidade e o das sociedades onde vive.
A enormidade do desafio parece por vezes assustadora, pelo que se introduziu
o conceito de “pilares da sustentabilidade” (forças motoras) para fazer face ao excesso ecológico em diferentes
sectores. A análise dos pilares da sustentabilidade permite-nos fazer uma decomposição dos diversos factores que contribuem
ao excesso de consumo de recursos e propor diferentes soluções para a sua redução. O desafio mais importante é do fazer face
às Mudanças Climáticas. Torna-se necessário criar um “Modelo de Soluções Climáticas” que algumas (ONGs) têm apresentado,
e que deve passar pela análise das ditas forças motoras, demonstrando a possibilidade de fazer face com sucesso ao crescimento
projectado da procura de serviços energéticos mundiais em 2050, ao mesmo tempo vão-se conseguindo reduções significativas
das emissões de gases de efeito de estufa em todo mundo. Tal modelo destaca a necessidade de tomar medidas imediatas para
travar a ameaça da mudança climática.
À medida que actuarmos para reduzir a nossa pegada e impacto nos serviços
da Terra, também devemos melhorar a forma de gerir os ecossistemas que prestam os ditos serviços. Para ter sucesso é preciso
que administremos os recursos nos termos e na escala ditada pela natureza. Isto significa que as decisões de cada sector económico,
como a agricultura ou a pesca, devem ser tomadas, tendo em conta as consequências ecológicas no futuro. Significa que devemos
encontrar formas de gerir a situação além das fronteiras nacionais dos países, cruzando os limites da propriedade privada
e das fronteiras políticas, para cuidar o ecossistema na sua totalidade. Há cerca de quatro décadas que os astronautas da
nave espacial “Apollo 8” fotografaram o famoso “Amanhecer da Terra”, proporcionando a primeira panorâmica
jamais contemplada do Planeta Terra.
Passaram duas gerações e o mundo passou do crédito ao deficit ecológico.
A espécie humana tem antecedentes notáveis de criatividade e de capacidade para resolver os problemas. Esse espírito que transportou
o homem à lua deve ser aproveitado para libertar as gerações futuras de uma dívida ecológica sufocante.